quinta-feira, agosto 21, 2008
IMAGENS DE TELEVISÃO
Quando a televisão ocupa os mais velhos.
Os idosos portugueses passam, em média, cinco horas, trinta minutos e cinquenta e um segundos diante da televisão.
Perante estes dados há quem tente interpretar o seu significado como uma questão escandalosa, um sintoma preocupante, uma espécie de grito de abandono e contra o vazio…dos nossos velhos.
Ora, com o aumento dos reformados e a crescente longevidade bem como a explosão de novos canais televisivos, estamos obrigados – numa acentuação moral e cultural – a reflectir sobre os conteúdos dos programas e os públicos heterogéneos que aqueles dados nos apresentam.
Na medida em que a televisão – em sistema aberto ou em canal pago – faz opinião e é feita para um certo público/alvo, temos de olhar com mais atenção as questões que são tratadas nos programas, quais os intervenientes (activos ou passivos) e até qual o horário de emissão e/ou de recepção. De facto, muitos dos programas ocorrem em tempos ‘mortos’ da produção económica, entre as dez e as dezassete horas, excluindo os noticiários da hora de almoço. Também o público assistente nos estúdios vai rodando entre os vários canais e/ou programas, tornando-se esse décor quase uma profissão para certas pessoas...
Se atendermos, por outro lado, a que, nos últimos três anos, se verificou um acréscimo de quase uma hora de visionamento de televisão por parte dos mais velhos, poderemos supor que há mais tempo livre para os mais velhos, notando-se a falta de ocupação desse mesmo tempo e em que a televisão surge como um escape mais ou menos simples, acessível e barato.
Poder-se-á ainda acrescentar a que uma certa ‘democratização’ – tanto de valores como de opiniões e mesmo de banalizações – realizada pela televisão como que faz dos mais velhos um público consumidor de programas de entretenimento pouco exigentes, tanto para aqueles que programam como para a ‘cultura’ que através da televisão se difunde... ao longe e ao largo.
Não será que a televisão é, nas casas de família como nos espaços de convívio de mais velhos (lares e centro de dia), um razoável lenitivo para a solidão e, sobretudo, para o isolamento? Não será que se deveria investir mais na participação dos mais velhos nos programas televisivos, fazendo-os intervir activamente – com as suas histórias, recordações e memórias – e, segundo o seu ritmo social, económico e profissional? Não deveríamos repor na programação das televisões – sobre nas de canal aberto – uma espécie de telescola para seniores à semelhança da ‘universidade para seniores' e daquilo que foi em tempos a dedicada aos estudantes de infância?
Como guardiães da nossa memória colectiva os mais velhos têm de ser tornados actores da cultura hodierna, refrescando os conceitos e inovando (até) nas propostas políticas. Somos, de facto, dos poucos países da Europa em que não há um Senado junto à Assembleia legislativa. Talvez devêssemos incluir esta faculdade logo nas autarquias, pois este Senado de proximidade poderia dirimir questões onde a experiência dos mais velhos é importante para o futuro de todos… a começar pelas crianças.
É, cada vez mais é urgente – mesmo no contexto da Igreja católica – colocar nas propostas de acção (pastoral ou cultural) temas onde os mais velhos possam ser mais do que meros espectadores. Embora o número de velhos tenha vindo a crescer, a qualidade das suas intervenções tem de ser mais humana e ainda mais comprometida e, sobretudo, comprometedora, num diálogo permanente entre todos.
A poltrona – com ou sem televisão – pode ser má conselheira, particularmente quando faz acomodar os mais velhos aos seus lamentos e azedumes.
do Jornal de Opinião da Agência Ecclesia
Os idosos portugueses passam, em média, cinco horas, trinta minutos e cinquenta e um segundos diante da televisão.
Perante estes dados há quem tente interpretar o seu significado como uma questão escandalosa, um sintoma preocupante, uma espécie de grito de abandono e contra o vazio…dos nossos velhos.
Ora, com o aumento dos reformados e a crescente longevidade bem como a explosão de novos canais televisivos, estamos obrigados – numa acentuação moral e cultural – a reflectir sobre os conteúdos dos programas e os públicos heterogéneos que aqueles dados nos apresentam.
Na medida em que a televisão – em sistema aberto ou em canal pago – faz opinião e é feita para um certo público/alvo, temos de olhar com mais atenção as questões que são tratadas nos programas, quais os intervenientes (activos ou passivos) e até qual o horário de emissão e/ou de recepção. De facto, muitos dos programas ocorrem em tempos ‘mortos’ da produção económica, entre as dez e as dezassete horas, excluindo os noticiários da hora de almoço. Também o público assistente nos estúdios vai rodando entre os vários canais e/ou programas, tornando-se esse décor quase uma profissão para certas pessoas...
Se atendermos, por outro lado, a que, nos últimos três anos, se verificou um acréscimo de quase uma hora de visionamento de televisão por parte dos mais velhos, poderemos supor que há mais tempo livre para os mais velhos, notando-se a falta de ocupação desse mesmo tempo e em que a televisão surge como um escape mais ou menos simples, acessível e barato.
Poder-se-á ainda acrescentar a que uma certa ‘democratização’ – tanto de valores como de opiniões e mesmo de banalizações – realizada pela televisão como que faz dos mais velhos um público consumidor de programas de entretenimento pouco exigentes, tanto para aqueles que programam como para a ‘cultura’ que através da televisão se difunde... ao longe e ao largo.
Não será que a televisão é, nas casas de família como nos espaços de convívio de mais velhos (lares e centro de dia), um razoável lenitivo para a solidão e, sobretudo, para o isolamento? Não será que se deveria investir mais na participação dos mais velhos nos programas televisivos, fazendo-os intervir activamente – com as suas histórias, recordações e memórias – e, segundo o seu ritmo social, económico e profissional? Não deveríamos repor na programação das televisões – sobre nas de canal aberto – uma espécie de telescola para seniores à semelhança da ‘universidade para seniores' e daquilo que foi em tempos a dedicada aos estudantes de infância?
Como guardiães da nossa memória colectiva os mais velhos têm de ser tornados actores da cultura hodierna, refrescando os conceitos e inovando (até) nas propostas políticas. Somos, de facto, dos poucos países da Europa em que não há um Senado junto à Assembleia legislativa. Talvez devêssemos incluir esta faculdade logo nas autarquias, pois este Senado de proximidade poderia dirimir questões onde a experiência dos mais velhos é importante para o futuro de todos… a começar pelas crianças.
É, cada vez mais é urgente – mesmo no contexto da Igreja católica – colocar nas propostas de acção (pastoral ou cultural) temas onde os mais velhos possam ser mais do que meros espectadores. Embora o número de velhos tenha vindo a crescer, a qualidade das suas intervenções tem de ser mais humana e ainda mais comprometida e, sobretudo, comprometedora, num diálogo permanente entre todos.
A poltrona – com ou sem televisão – pode ser má conselheira, particularmente quando faz acomodar os mais velhos aos seus lamentos e azedumes.
do Jornal de Opinião da Agência Ecclesia