segunda-feira, janeiro 02, 2006
PROVEDORIAS Crónica de hoje, no DN
Uma amostra de 2005 em primeira página
José Carlos Abrantes
A primeira página ocupa-se frequentemente da política institucional.
O que passou pelas primeiras páginas do DN no ano de 2005? Os leitores terão uma recordação difusa. Não seria impossível, mas seria muito moroso e complexo fazer uma análise de todas as primeiras páginas dos mais de 360 jornais publicados. Solicitei por isso ao Centro de Documentação do DN as primeiras páginas de três dias: o primeiro, o dia 15 e último dia de cada mês. Num ápice, Teresa Balesteros, directora do Centro, enviou por e-email os PDFs das páginas solicitadas. Ficámos assim com 36 primeiras páginas como objecto de análise.
As primeiras páginas são a montra do jornal. “As primeiras páginas funcionam como indicadores da importância dada aos conteúdos. O que vem na capa dos jornais é, sem dúvida, aquilo a que cada órgão de comunicação dá mais destaque, aquilo que se acredita que vai fazer vender o jornal. Nesse sentido, são um indicador fundamental, pois têm sempre em linha de conta o interesse do leitor pelos temas. Ou seja, o que aparece nas primeiras páginas é o que se pensa captar mais a atenção do leitor e, como tal, é útil para perceber fenómenos sociais e comunicacionais.” Isto considera Isabel Nery uma jornalista que fez um mestrado sobre as primeiras páginas do Diário de Notícias, Público, Jornal de Notícias e Correio da Manhã dos anos 90.
Imagens Em geral, uma ou duas imagens de maiores dimensões ocupa as páginas analisadas. São do Internacional a maior parte destas imagens (8): Israel foi o tema mais frequente aparecendo três vezes. Houve ainda o furacão Katrina, o terramoto , eleições no Líbano, o Iraque, os refugiados sudaneses. A Política, Cultura e Sociedade foram as categorias seguintes com 5 menções cada. O desporto apareceu apenas 3 vezes as mesmas que a Ciência e a Religião. Há imagens de dois assuntos do Nacional e duas outras referem-se a vários assuntos. A figura que apareceu mais nas notícias mais destacadas foi José Sócrates (3 vezes). Santana Lopes, o Papa João Paulo II e Mário Soares são destacados 2 vezes cada. Manuel Alegre, uma vez. Outros políticos aparecem em notícias de menor destaque ou em imagens de dimensões mais reduzidas: Paulo Portas, Francisco Louçã, Carmona Rodrigues, António Costa, Marques Mendes, António Vitorino, Filipe Menezes, Jerónimo de Sousa, Jorge Sampaio e Cavaco Silva são disso exemplos.
Um aspecto interessante é a diversidade destas imagens: não são apenas fotografias mas também ilustrações. Não são apenas de fotógrafos do DN, mas também de uma agência internacional (a AP) ou mesmo da Lusa. Mesmo o texto serviu para fazer imagem, num caso.
Que assuntos nas primeiras páginas? Não são apenas as notícias que ocupam as primeiras páginas, embora estas ocupem sempre a parte mais significativa da página. A publicidade está sempre presente, bem como as auto-promoções a produtos que vão encartados no DN. Acontece ainda que alguns assuntos tratados na revistas ou mesmo no corpo do jornal são referenciados, sendo por vezes difícil distinguir se o destaque é uma notícia ou uma auto-promoção. As necessidades de paginação levam, por vezes, a descer o cabeçalho onde se inscreve o nome do jornal e o nome dos directores, alterando o visual habitual do jornal. Um artigo de opinião de Salmon Rushdie, em 30 de Abril,
foi assinalado em primeira página.
Que regularidades? Na análise ressalta claramente que a primeira página se ocupa frequentemente da política institucional. Política que se refere às legislativas, às autárquicas, às presidenciais, à actividade do Parlamento, às medidas do governo, a críticas ou posições de políticos da oposição. Não podemos esquecer que o ano de 2005 viu eleições legislativas, autárquicas e serviu de rampa de lançamento para as eleições presidenciais que decorrerão em 22 de Janeiro. O primeiro (pequeno) destaque em primeira página das presidenciais foi em 1 de Fevereiro: “PS espera por Guterres e desvaloriza Freitas.”
O Internacional (Katrina, terramoto na Ásia, Iraque, Israel, o Líbano, ecos do tsunami ou o Vietname) é uma secção que coloca também muitos destaques em primeira página, como também a Sociedade e a Economia. A questão do aborto foi muito regularmente chamada a primeira página e, quase sempre, em notícias de algum relevo.
O Desporto foi quase só futebol: uma menção sobre automobilismo e outra sobre basquetebol foram as excepções. E, no futebol, Sporting e Benfica aparecem de modo mais regular que outros clubes. Mourinho e o Chelsea são também companheiros do futebol lisboeta, e, em menor grau, o Porto, sobre quem se assinala um Tema sobre a crise que o clube passava na ocasião.
As Artes aparecem menos, mas por vezes com grande destaque, sendo o CCB a instituição mais citada. Uma das primeiras páginas recentes destaca inéditos de Fernando Pessoa e é acompanhada por um belo desenho de Júlio Pomar. Outras secções são menos visíveis: é o caso dos Media, que, aparece pouco e nem sempre por questões relevantes.
A Europa foi tímida nos destaques. O mais recente destes destaques envolve Durão Barroso que tentaria travar a produção legislativa de Bruxelas. Outro refere-se a um protesto do Governo quanto a défice. O não ao referendo na Holanda é um terceiro tema abordado. A edição de 31 de Dezembro redimiu em certa medida esta timidez pois assinala as páginas 2 a 7 onde se faz um balanço, se desenha o futuro e se analisam as duas décadas de Portugal na União. Outra quase ausência são os Palop’s: uma das raras referências diz respeito a Angola e ao Massacre de Ambriz, já longe no tempo e outra a Nino Vieira com uma alusão às eleições na Guiné.
(1) Nery, Isabel, Política e Jornais: Encontros mediáticos, Lisboa, Celta, 2004
BLOCO NOTAS
Mulheres Não aparecem mulheres em destaque, salvo duas excepções: a notícia da morte da irmã Lúcia (Fevereiro) e a mulher kamikaze belga que se fez explodir em Bagdad (Dezembro). Numa outra página aparece uma jovem em primeiro plano de uma manifestação no Líbano. Noutra um rosto de mulher olha a exposição Espelho Meu, no CCB. As leitoras terão que se reconhecer noutras imagens. O reconhecimento é um conceito pouco trabalhado nos media, em Portugal. Basta ver como a televisão é jovem enquanto o país envelhece.
Ainda a primeira página Segundo Isabel Nery (obra citada) “os órgãos de informação deparam-se diariamente com duas tarefas fundamentais. Primeiro, decidir que temas devem ser tratados em determinado momento. Segundo, dentro dos temas já seleccionados, quais terão direito a destaque e que tipo de destaque (topo ou baixo de página, tamanho, página par ou ímpar, chamada à capa, e dentro desta, é preciso definir de novo uma hierarquia de importância).
O processo de selecção implica a exclusão constante de variadíssimos assuntos.”
Três nomes No ano de 2005 três nomes apareceram no cabeçalho como directores do DN: Miguel Coutinho (que vinha de um mandato iniciado em 2005), João Morgado Fernandes (como director interino) e António José Teixeira, actual director. Em 2004 tinha havido igualmente 3 nomes no cabeçalho (Fernando Lima, José Manuel Barroso – este como director interino e Miguel Coutinho). Desejam-se anos de estabilidade para o DN poder recuperar desta recente turbulência.
Comunidade surda O leitor Alexandre Najmark
enviou um e-mail queixando-se veemente por não ter podido seguir a informação geral e sobretudo os debates com os candidatos presidenciais nos diferentes canais de televisão. “(...) Gostava que alguém me explicasse o porquê da falta de divulgação e de informação para (...) a comunidade surda que nem direito tem de saber o que os candidatos à presidência da republica dizem na sua campanha. Nos debates televisivos muito menos sabem o que discutem. Será que não são cidadãos?
Já para não falar nas noticias em directo pois esta classe é como tantas outras que só serve para estatísticas e pagar o seu devido imposto (...).
Agradecia que (..) comentasse e me explicasse o porquê da exclusão à informação.” A crítica não é dirigida ao DN. E, na resposta enviada ao leitor, esclarecia que a televisão pública terá brevemente um provedor. A quem caberá analisar casos como este.
Escreva Escreva sobre a informação do DN para provedor2006@dn.pt
Solicita-se aos leitores o envio de elementos identificativos: nome completo, morada e telefone de contacto.
Para outros assuntos : dnot@dn.pt
Uma amostra de 2005 em primeira página
José Carlos Abrantes
A primeira página ocupa-se frequentemente da política institucional.
O que passou pelas primeiras páginas do DN no ano de 2005? Os leitores terão uma recordação difusa. Não seria impossível, mas seria muito moroso e complexo fazer uma análise de todas as primeiras páginas dos mais de 360 jornais publicados. Solicitei por isso ao Centro de Documentação do DN as primeiras páginas de três dias: o primeiro, o dia 15 e último dia de cada mês. Num ápice, Teresa Balesteros, directora do Centro, enviou por e-email os PDFs das páginas solicitadas. Ficámos assim com 36 primeiras páginas como objecto de análise.
As primeiras páginas são a montra do jornal. “As primeiras páginas funcionam como indicadores da importância dada aos conteúdos. O que vem na capa dos jornais é, sem dúvida, aquilo a que cada órgão de comunicação dá mais destaque, aquilo que se acredita que vai fazer vender o jornal. Nesse sentido, são um indicador fundamental, pois têm sempre em linha de conta o interesse do leitor pelos temas. Ou seja, o que aparece nas primeiras páginas é o que se pensa captar mais a atenção do leitor e, como tal, é útil para perceber fenómenos sociais e comunicacionais.” Isto considera Isabel Nery uma jornalista que fez um mestrado sobre as primeiras páginas do Diário de Notícias, Público, Jornal de Notícias e Correio da Manhã dos anos 90.
Imagens Em geral, uma ou duas imagens de maiores dimensões ocupa as páginas analisadas. São do Internacional a maior parte destas imagens (8): Israel foi o tema mais frequente aparecendo três vezes. Houve ainda o furacão Katrina, o terramoto , eleições no Líbano, o Iraque, os refugiados sudaneses. A Política, Cultura e Sociedade foram as categorias seguintes com 5 menções cada. O desporto apareceu apenas 3 vezes as mesmas que a Ciência e a Religião. Há imagens de dois assuntos do Nacional e duas outras referem-se a vários assuntos. A figura que apareceu mais nas notícias mais destacadas foi José Sócrates (3 vezes). Santana Lopes, o Papa João Paulo II e Mário Soares são destacados 2 vezes cada. Manuel Alegre, uma vez. Outros políticos aparecem em notícias de menor destaque ou em imagens de dimensões mais reduzidas: Paulo Portas, Francisco Louçã, Carmona Rodrigues, António Costa, Marques Mendes, António Vitorino, Filipe Menezes, Jerónimo de Sousa, Jorge Sampaio e Cavaco Silva são disso exemplos.
Um aspecto interessante é a diversidade destas imagens: não são apenas fotografias mas também ilustrações. Não são apenas de fotógrafos do DN, mas também de uma agência internacional (a AP) ou mesmo da Lusa. Mesmo o texto serviu para fazer imagem, num caso.
Que assuntos nas primeiras páginas? Não são apenas as notícias que ocupam as primeiras páginas, embora estas ocupem sempre a parte mais significativa da página. A publicidade está sempre presente, bem como as auto-promoções a produtos que vão encartados no DN. Acontece ainda que alguns assuntos tratados na revistas ou mesmo no corpo do jornal são referenciados, sendo por vezes difícil distinguir se o destaque é uma notícia ou uma auto-promoção. As necessidades de paginação levam, por vezes, a descer o cabeçalho onde se inscreve o nome do jornal e o nome dos directores, alterando o visual habitual do jornal. Um artigo de opinião de Salmon Rushdie, em 30 de Abril,
foi assinalado em primeira página.
Que regularidades? Na análise ressalta claramente que a primeira página se ocupa frequentemente da política institucional. Política que se refere às legislativas, às autárquicas, às presidenciais, à actividade do Parlamento, às medidas do governo, a críticas ou posições de políticos da oposição. Não podemos esquecer que o ano de 2005 viu eleições legislativas, autárquicas e serviu de rampa de lançamento para as eleições presidenciais que decorrerão em 22 de Janeiro. O primeiro (pequeno) destaque em primeira página das presidenciais foi em 1 de Fevereiro: “PS espera por Guterres e desvaloriza Freitas.”
O Internacional (Katrina, terramoto na Ásia, Iraque, Israel, o Líbano, ecos do tsunami ou o Vietname) é uma secção que coloca também muitos destaques em primeira página, como também a Sociedade e a Economia. A questão do aborto foi muito regularmente chamada a primeira página e, quase sempre, em notícias de algum relevo.
O Desporto foi quase só futebol: uma menção sobre automobilismo e outra sobre basquetebol foram as excepções. E, no futebol, Sporting e Benfica aparecem de modo mais regular que outros clubes. Mourinho e o Chelsea são também companheiros do futebol lisboeta, e, em menor grau, o Porto, sobre quem se assinala um Tema sobre a crise que o clube passava na ocasião.
As Artes aparecem menos, mas por vezes com grande destaque, sendo o CCB a instituição mais citada. Uma das primeiras páginas recentes destaca inéditos de Fernando Pessoa e é acompanhada por um belo desenho de Júlio Pomar. Outras secções são menos visíveis: é o caso dos Media, que, aparece pouco e nem sempre por questões relevantes.
A Europa foi tímida nos destaques. O mais recente destes destaques envolve Durão Barroso que tentaria travar a produção legislativa de Bruxelas. Outro refere-se a um protesto do Governo quanto a défice. O não ao referendo na Holanda é um terceiro tema abordado. A edição de 31 de Dezembro redimiu em certa medida esta timidez pois assinala as páginas 2 a 7 onde se faz um balanço, se desenha o futuro e se analisam as duas décadas de Portugal na União. Outra quase ausência são os Palop’s: uma das raras referências diz respeito a Angola e ao Massacre de Ambriz, já longe no tempo e outra a Nino Vieira com uma alusão às eleições na Guiné.
(1) Nery, Isabel, Política e Jornais: Encontros mediáticos, Lisboa, Celta, 2004
BLOCO NOTAS
Mulheres Não aparecem mulheres em destaque, salvo duas excepções: a notícia da morte da irmã Lúcia (Fevereiro) e a mulher kamikaze belga que se fez explodir em Bagdad (Dezembro). Numa outra página aparece uma jovem em primeiro plano de uma manifestação no Líbano. Noutra um rosto de mulher olha a exposição Espelho Meu, no CCB. As leitoras terão que se reconhecer noutras imagens. O reconhecimento é um conceito pouco trabalhado nos media, em Portugal. Basta ver como a televisão é jovem enquanto o país envelhece.
Ainda a primeira página Segundo Isabel Nery (obra citada) “os órgãos de informação deparam-se diariamente com duas tarefas fundamentais. Primeiro, decidir que temas devem ser tratados em determinado momento. Segundo, dentro dos temas já seleccionados, quais terão direito a destaque e que tipo de destaque (topo ou baixo de página, tamanho, página par ou ímpar, chamada à capa, e dentro desta, é preciso definir de novo uma hierarquia de importância).
O processo de selecção implica a exclusão constante de variadíssimos assuntos.”
Três nomes No ano de 2005 três nomes apareceram no cabeçalho como directores do DN: Miguel Coutinho (que vinha de um mandato iniciado em 2005), João Morgado Fernandes (como director interino) e António José Teixeira, actual director. Em 2004 tinha havido igualmente 3 nomes no cabeçalho (Fernando Lima, José Manuel Barroso – este como director interino e Miguel Coutinho). Desejam-se anos de estabilidade para o DN poder recuperar desta recente turbulência.
Comunidade surda O leitor Alexandre Najmark
enviou um e-mail queixando-se veemente por não ter podido seguir a informação geral e sobretudo os debates com os candidatos presidenciais nos diferentes canais de televisão. “(...) Gostava que alguém me explicasse o porquê da falta de divulgação e de informação para (...) a comunidade surda que nem direito tem de saber o que os candidatos à presidência da republica dizem na sua campanha. Nos debates televisivos muito menos sabem o que discutem. Será que não são cidadãos?
Já para não falar nas noticias em directo pois esta classe é como tantas outras que só serve para estatísticas e pagar o seu devido imposto (...).
Agradecia que (..) comentasse e me explicasse o porquê da exclusão à informação.” A crítica não é dirigida ao DN. E, na resposta enviada ao leitor, esclarecia que a televisão pública terá brevemente um provedor. A quem caberá analisar casos como este.
Escreva Escreva sobre a informação do DN para provedor2006@dn.pt
Solicita-se aos leitores o envio de elementos identificativos: nome completo, morada e telefone de contacto.
Para outros assuntos : dnot@dn.pt