sexta-feira, março 24, 2006
PALAVRAS SOBRE IMAGENS
estou a recuperar textos antigos, publicados aqui e além, que vou encontrando nos arquivos. E estou a publicá-los aqui. É certo que, anos depois, a sensação é estranha pois certos aspectos deixaram de ter pertinência, outros desvaneceram-se na bruma do tempo.
"GUTEMBERG E A TELEVISÃO
Um dia alguém terá querido apoucar a ideia de Gutemberg criar a imprensa . Se quase ninguém sabia ler, para que iria servir uma máquina de imprimir livros? Gutemberg terá respondido: para se aprender a ler. Como sabemos, não se enganou.
É estimulante pensar que, se Gutemberg tivesse inventado a televisão, talvez respondesse aos cépticos actuais que lhe observassem ser o esforço desta criação inglório (pois os espectadores não teriam bom gosto para fruir do pequeno écrã) : a televisão é precisa para, pelo entretenimento, alargar o gosto ( cultural) de grandes massas de espectadores.
Ainda recentemente, neste jornal, Eduardo Prado Coelho lançava a palavra de ordem: combater a ideologia da facilidade. Provavelmente foi isto que Gutemberg tentou fazer. Acredito não ser fácil, naquela época, como sei não o ser nos dias de hoje. John Fust, sócio de Gutemberg e financeiro do projecto, deslocou-se a Paris, à Universidade da Sorbonne, onde havia já dez mil alunos, para tentar trocar as Bíblias por alguma moeda da época. Não esperava, certamente, ter que fugir para salvar a vida, pois a poderosa Confederação dos Profissionais ligados ao livro (desde os copistas, aos encadernadores) achou obra de Satanás ver um só homem dono de tantos exemplares e, imagine-se ... exemplares rigorosamente iguais. Felizmente para nós, leitores do século XX, nem Gutemberg, nem Fust, cederam à ideologia da facilidade, sugerida por estes episódios. Pelo que fica descrito, bem o poderiam ter feito, desistindo da imprensa e apoiando a tradicional cópia manual da escrita.
Entre nós, nos dias de hoje, a ideologia da facilidade está instalada por todo o lado, e , por isso, também na televisão. "
estou a recuperar textos antigos, publicados aqui e além, que vou encontrando nos arquivos. E estou a publicá-los aqui. É certo que, anos depois, a sensação é estranha pois certos aspectos deixaram de ter pertinência, outros desvaneceram-se na bruma do tempo.
"GUTEMBERG E A TELEVISÃO
Um dia alguém terá querido apoucar a ideia de Gutemberg criar a imprensa . Se quase ninguém sabia ler, para que iria servir uma máquina de imprimir livros? Gutemberg terá respondido: para se aprender a ler. Como sabemos, não se enganou.
É estimulante pensar que, se Gutemberg tivesse inventado a televisão, talvez respondesse aos cépticos actuais que lhe observassem ser o esforço desta criação inglório (pois os espectadores não teriam bom gosto para fruir do pequeno écrã) : a televisão é precisa para, pelo entretenimento, alargar o gosto ( cultural) de grandes massas de espectadores.
Ainda recentemente, neste jornal, Eduardo Prado Coelho lançava a palavra de ordem: combater a ideologia da facilidade. Provavelmente foi isto que Gutemberg tentou fazer. Acredito não ser fácil, naquela época, como sei não o ser nos dias de hoje. John Fust, sócio de Gutemberg e financeiro do projecto, deslocou-se a Paris, à Universidade da Sorbonne, onde havia já dez mil alunos, para tentar trocar as Bíblias por alguma moeda da época. Não esperava, certamente, ter que fugir para salvar a vida, pois a poderosa Confederação dos Profissionais ligados ao livro (desde os copistas, aos encadernadores) achou obra de Satanás ver um só homem dono de tantos exemplares e, imagine-se ... exemplares rigorosamente iguais. Felizmente para nós, leitores do século XX, nem Gutemberg, nem Fust, cederam à ideologia da facilidade, sugerida por estes episódios. Pelo que fica descrito, bem o poderiam ter feito, desistindo da imprensa e apoiando a tradicional cópia manual da escrita.
Entre nós, nos dias de hoje, a ideologia da facilidade está instalada por todo o lado, e , por isso, também na televisão. "