"Hou Hsiao Hsien (Taiwan) e Apichatpong Weerasethakul (Tailândia) são, algo estranhamente, pela dificuldade em pronunciá-los, os nomes mais sonantes do 14º Festival Internacional de Curtas Metragens de Vila do Conde. Até ontem era garantida a presença de ambos, mas à última hora Hsiao Hsien cancelou a vinda. Seja como for, de hoje ao próximo dia 16 o Auditório Municipal daquela cidade e outros espaços em volta estão repletos de propostas cinematográficas e musicais para todos os gostos. Ou, como a direcção do certame prefere dizer, para gostos contemporâneos. No DN, hoje"
Entre Janeiro e Junho de 2006, cada português viu, em média por dia, em sua casa, 3 horas, 28 minutos e 57 segundos de televisão, menos 2 minutos e 37 segundos do que no mesmo semestre do ano anterior.
Neste ano, foi em Janeiro que se registou maior consumo de televisão entre os portugueses, quando passaram, por dia, uma média de 3 horas e 39 minutos a ver televisão em suas casas. Pelo contrário, foi no mês de Maio que se observou menor audiência de televisão, com 3 horas e 16 minutos diários.
A análise por targets mostra como os idosos são os maiores consumidores deste meio. Entre os residentes no Continente com mais de 64 anos, o tempo médio de audiência de televisão atinge as 4 horas, 58 minutos e 23 segundos, mais 42.8% do que a média do universo.
Por regiões, é no Grande Porto que se regista um maior valor de audiência de televisão, com os residentes nesta região a dedicarem a este meio uma média diária de 3 horas e 42 minutos (mais 6.5% do que a média do universo).
Entre as classes sociais, são os indivíduos da classe baixa os que mais vêem televisão, com 4 horas e 20 minutos, mais 24.3% do que a média do universo.
Por sexo, as mulheres são as que mais consomem Tv, com 3 horas e 46 minutos, mais 8.4% do que a média do universo.
Finalmente, a análise por situação no lar, mostra que as donas de casa são as que dedicam à televisão mais tempo, uma média de 4 horas e 11 minutos, mais 20.1% do que a média.
Esta análise foi realizada para o período compreendido entre 1 de Janeiro e 30 de Junho de 2006, tendo sido utilizado o software MMW/Telereport da MediaMonitor. Contacte-nos se pretende mais informações sobre este assunto.
"OS GRANDES E O PEQUENO
Manuel Alegre
1.
Como no poema de Sophia, também eu “gosto de ouvir o português do Brasil / onde as palavras recuperam sua substância total”, gosto de ouvir esse português falado “com suas sílabas todas / sem perder sequer um quinto de vogal”. Sim, gosto do português escrito pelos poetas e prosadores do Brasil e do português falado pelo povo, com suas palavras “concretas como frutos nítidas como pássaros”. Gosto das canções brasileiras e, se me permitem, gosto do português jogado pelos seus grandes futebolistas, aqueles que tratam a bola como quem fala, como quem escreve, como quem afaga ou como quem dança. João Cabral de Melo Neto, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Jorge Amado ou Guimarães Rosa no ritmo de Pelé, Garrincha, Tostão, Rivelino, Zico, Romário. Mas não foi esse o Brasil que esteve na Alemanha. O que se viu foi um Brasil sem poesia, nem samba, nem dança. Um Brasil sorumbático, treinado por um Parreira que é talvez o único brasileiro que come as sílabas, os pássaros e as vogais das palavras. E não me venham dizer que Ronaldinho Gaúcho é o melhor do mundo. Não é. O melhor estava do outro lado e chama-se Zidane.
Creio que alguns brasileiros ( e alguns portugueses também ) estão convencidos de que o Brasil tem uma espécie de direito divino a ser campeão do Mundo. Ora no futebol não há povos eleitos. Nem no futebol nem no resto. Aquele Brasil sem festa mereceu voltar para casa. Foi pena. Mas talvez a lição faça bem e da próxima vez tenhamos um Brasil a jogar com as sílabas todas.
2.
Também gosto da Argentina de Buenos Aires, dos seus arrabaldes e dos seus tangos, da incomparável orquestra de Francisco Canaro e do génio de Astor Piazzola, que desconstruiu, subverteu e reinventou o tango, a Argentina onde a palavra sul encontra o seu exacto lugar geográfico. Gosto da Argentina da prosa e da poesia de Jorge Luis Borges, aquele que fala de uma “região onde o ontem pudesse / ser o Hoje, o Ainda, o Todavia.” Esse espaço mítico do sul ou dos bairros do ciúme e faca de Buenos Aires, o ritmo de Canaro e Piazzola, assim como a escrita de Borges, aparecem na inspiração e no fulgor dos seus jogadores de futebol. Maradona era isso tudo. E talvez mais. E nesta selecção, talvez uma das melhores de sempre, percebia-se um pouco de toda a beleza e mitologia que há nos versos de Borges, nos bairros ou nas pampas sem fim que terminam no sul do sul. Mas um tipo estranho, chamado Peckerman, resolveu deixar o tango, o poema e o sul no banco. Meteu Messi na gaveta e assassinou o que podia ter sido um dos melhores poemas deste Mundial.
3.
Foram 120 minutos que não foram 120 minutos. Foram 120 minutos que duraram a vida toda. E terminaram com Portugal a subir ao céu levado pelas mãos de Ricardo. Poucas vezes vi uma expressão tão concentrada. Aquele homem estava em estado de graça ou de transe místico, só vi algo de parecido no rosto de Amália a cantar certos fados. Ou nas fotografias que fixaram o olhar de Manolete pouco antes de matar o miúra que o mataria em Linares. Foram momentos em que havia em Ricardo um não sei quê de místico, entre monge e toureiro. Pela segunda vez consecutiva ele abateu a Inglaterra nos penaltis. Um povo inteiro, de coração quase a estalar, ressuscitou à terceira defesa e saiu para a rua quando Ronaldo entrou a matar. Honra a Ricardo, à selecção e a Scolari. Quarenta anos depois voltamos a estar nas meias finais do Campeonato do Mundo. Continua a haver uns inteligentes incapazes de gostar de futebol ou de tentar sequer perceber o fenómeno em que esse jogo se transformou. Outros fazem questão de lembrar que há mais mundo para além do Mundial e que depois tudo vai continuar na mesma. É certo que a selecção não pode resolver os problemas políticos e sociais do país. Mas há um milagre que ela conseguiu: foi despertar e entusiasmar os portugueses. Não é coisa pouca. Até porque, dizia Antero de Quental, “um povo de dormentes só no cemitério se encontrará.” Graças ao futebol e à selecção de Portugal, há milhões de portugueses que vão continuar acordados. Até quando? Eis a pergunta a que já não compete à selecção responder.
(...)"
AS DORES QUE NÃO PARAM O MUNDO
" (...) O que eu invejo, doutor, é quando o jogador cai no chão e se enrola e rebola a exibir bem alto as suas queixas. A dor dele faz parar o mundo. Um mundo cheio de dores verdadeiras pára perante a dor falsa de um futebolista. As minhas mágoas que são tantas e tão verdadeiras e nenhum árbitro manda parar a vida para me atender, reboladinho que estou por dentro, rasteirado que fui pelos outros. Se a vida fosse um relvado, quantos penalties eu já tinha marcado contra o destino? (...)
Mia Couto, in O fio das missangas ,
Editorial Caminho, Lisboa, 2004, 148 pgs., ISBN: 972-21-1611-8
enviado por Patrocína César.
"Uma imagem pode ou não ter movimento e pode ou não ser acompanhada de som. A imagem procura captar o natural, a realidade. É, muitas vezes, uma prova dessa realidade, reproduzindo-a."
resposta de uma aluna universitária, ano 1999/2000.