segunda-feira, novembro 27, 2006
A FÁBRICA DO OLHAR Excerto Capítulo XXI
Capítulo XXI FOTOGRAFIAS CALCULADAS Buracos negros, 1990
A existência de buracos negros não está comprovada. E mesmo que existissem, os buracos negros seriam invisíveis. Como se poderia ter uma imagem deles?
Como poderíamos determinar a sua presença, sabendo-se que, sendo zonas do espaço-tempo de gravitação extrema, nada deixam escapar, nem sequer a luz? Únicos no género, são os únicos objectos conhecidos que nada transmitem. Não emitem qualquer luz, não transmitem nenhum dado, nem sequer informação sobre a sua própria existência.
Criar a imagem de um buraco negro é desafio suficiente para mobilizar alguns investigadores que se esforçam por imaginar o objecto dos seus trabalhos. Que se passaria, que veríamos se nos pudéssemos aproximar de um buraco negro munidos de um aparelho fotográfico? Que fotografias teríamos de tal viagem no espaço? Os saberes científicos usam ficções: imaginar coisas impossíveis facilita a aplicação de conhecimentos racionais. Os «Que aconteceria se...?», os «E se fôssemos a um mundo regido por leis diferentes das nossas?», fazem plenamente parte das construções científicas. Raciocinar sobre o fictício pode conduzir ao verdadeiro. Não sabemos se os buracos negros existem. Se existissem, não poderíamos vê-los. Além disso, é muito provável que esta viagem nunca seja possível. No entanto, fabricar fotografias fictícias de buracos negros não tem apenas um carácter lúdico.