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sábado, agosto 30, 2003
AS IMAGENS E O SEU SENTIDO

Hoje, João Lopes, no DN, refere-se a um filme japonês que ainda não vi, "Embriagado de Mulheres e Pinturas". Diz João Lopes que "é um daqueles filmes que nos fazem compreender que qualquer leitura das imagens é sempre historicamente datada e culturalmente relativa." É um dos pressupostos teóricos que tenho feito funcionar neste blogger como nas aulas ou nos escritos.
Não posso estar mais de acordo, caro João Lopes!

E agora o blogger vai encerrar, para férias, até dia 21 de Setembro…... Boas férias, boas viagens, boas leituras! (leiam o histórico do blogger se não acompanharam desde o princípio…)
 
José Carlos Abrantes | 2:15 da tarde | 0 comments
sexta-feira, agosto 29, 2003
NADAR

Quem foi meu aluno sabe que, de vez em quando, nos exames, havia uma pergunta sobre Nadar Lembrei-me dele agora, para o blogger, pois fui à livraria da FNAC e aí encontrei um pequeno livro, que comprei para oferta a uma pessoa amiga amadora de fotografia. Comprei ainda para a minha colecção de livros (onde os arrumar?) um sobre Jacob Riis e outro sobre Lewis Hine. Vamos ao primeiro.

Nadar exerce a sua actividade ma segunda metade do século XIX em Paris na altura em que a fotografia tem um enorme desenvolvimento. Nadar procura a expressão verdadeira nos seus retratados que são quase sempre homens e mulheres das letras e das artes: Baudelaire, Vitor Hugo, Sara Bernhardt, Manet, por exemplo. Poses em estúdio, com "décors" sóbrios mas muito cuidados, para fazer sair o que cada um tem dentro de si próprio.
Nadar vai também fotografar nas catacumbas de Paris e precisa de inventar um flash, para fotografar no escuro. Sobe a um balão e torna-se num dos primeiros homens a fotografar das alturas, acrescentando uma perspectiva de olhar então desconhecida do olho humano.

O retrato, sendo um dos grandes géneros da fotografia, foi desenvolvido por diferentes autores, com diferentes perspectivas: Disderi, contemporâneo de Nadar, regista a patente do cartão de visita com múltiplas poses e regista um sucesso comercial estrondoso. Julia Margaret Cameron (1815-1879) faz um trabalho semelhante ao de Nadar em Inglaterra, fixando também contemporâneos célebres. Lewis Carrol (1832-1898), autor de Alice no País das Maravilhas, fotografa rapariguinhas, algo estranho, perturbador. Muitos outros assinalam depois grandes variações no modo de retratar: Philip Halsmann, por exemplo, salta com os seus modelos para obter um momento mais solto, menos tenso.

Nadar, London, Phaidon, 2002
 
José Carlos Abrantes | 5:22 da tarde | 0 comments
quinta-feira, agosto 28, 2003
DURER, ALBRECHT

Durer é um famoso pintor representado no Museu de Arte Antiga em Lisboa. Ainda numa recente ida ao Museu para ver a exposição do fotógrafo Carlos Relvas pude apreciar (julgo que uma reprodução) do quadro S. Jerónimo. Não vi o Auto-Retrato, na altura. Ambos os quadros são hoje objecto de uma peça de Isabel Salema, no Público. O quadro S. Jerónimo foi tema do trabalho de uma aluna apresentado no Curso As imagens e Nós, que recentemente organizei no CENJOR.

O meu interesse por Durer começou pelo desenho do rinoceronte que este executou sem nunca ter visto nenhum, tendo-se baseado apenas no relato e esboços de alguém que terá visto em Lisboa um espécimen,que fora oferecido ao Rei D. Manuel I. Este, por sua vez, ofereceu-o ao Papa Leão X, que não o chegou a ver, pois houve um naufrágio tendo o animal perecido. Antes Francisco I, rei de França, havia visto este exemplar numa paragem da comitiva em Marselha. Imagem que se refere a um animal das indías, mas que nunca fora visto em imagem natural por Durer. A criatividade do artista permitiu assim a criação de uma imagem , sem referente visto.

Mas o que me fascina em Durer, como em muitos artistas da época, é a sua passagem por Itália, então mãe de todas as artes e conhecimento. Durer, como tantos outros, sabe que precisa de sair da sua terra natal, de conhecer outros mundos para poder crescer artisticamente. Em Itália encontrou Bellini um pintor ja idoso que passou a admirar. Ainda hoje sabemos como as trocas internacionais ajudam as pessoas a melhor relativizarem os seus valores, os seus conceitos, as sua rotinas. No caso de Durer ajudou-o certamente a escrever o seu tratado sobre as proporções em 4 volumes, bem como foi fonte de influência sobre os auto-retratos, retratos, pinturas e desenhos da natureza que Durer pintou com grande realismo.
 
José Carlos Abrantes | 5:07 da tarde | 0 comments
quarta-feira, agosto 27, 2003
MARTE

Hoje, 27 de Agosto, Marte aproxima-se da Terra quanto já não acontecia desde há 60 mil anos e só em 2287 terá uma posição semelhante. Daí que este acontecimento provoque uma verdadeira "mundialização" do olhar, levando os habitantes de Lisboa, Seatlle, Florianópolis, Hong Kong, por exemplo, a olhar para os céus e usufruir deste momento único que o olhar proporciona (se as nuvens o permitirem).

Ora Marte tem sido um dos planetas mais fotografados dos últimos 20 anos desde as sondas Viking, no fim dos anos 70. "A fotografia é a verdadeira retina do sábio", declarou Jan Janssen, um astrónomo. Seguindo esse princípio varias sondas têm feito milhares de fotografias (mais de 50 mil pelas Viking, depois segui-se a Pathfinder, em 1997 e mais recentemente o gigantesco telescópio Hubble).

As imagens de Marte, bem como outros dados, acabaram por quebrar o imaginário da vida em Marte que foi amplamente alimentada pela ciência, no século XIX. De facto, astrónomos como o italiano Sciapparelli e o americano Lowell defenderam a ideia, o primeiro de canais que na Europa foram assimilados a redes de caminhos de ferro, então em grande expansão. Nos EUA foram vistos mais como canais de irrigação levando para Marte a seca do sudoeste americano. Assim os habitantes de Marte teriam uma civilização avançada com as suas linhas férreas e os seus sistemas de irrigação complexos.

A literatura (H.G.Wells), o cinema (Marte Ataca, de Tim Burton, por exemplo), a rádio (a Guerra dos Mundos, de Orson Welles) fazem parte do universo ficcional que a ciência havia alimentado. As imagens recentes vieram dizer que, afinal, tudo não passava de um sonho. Neste caso até o sonho se integrou na ciência, na literatura, na rádio: as imagens ajudaram a desfazê-lo, paradoxalmente, elas que são acusadas de ser, por via de regra, uma fábrica de sonhos.

Interessante também o peso tecnológico da fabricação destas imagens: missões espaciais são planeadas para esta recolha, potentes telescópios são construídos, o seu envio de Marte para a Terra exige complexas transmisssões. Ainda há quem pense que as imagens só vivem pelo sentido que criam.. E os dólares que são precisos para as fabricar? E as políticas sociais, científicas, tecnológicas que se constroem (ou deixam de construir) para esses imagens serem obtidas? E a tecnologia que se lhes associa? As imagens são relações…nem sempre relativas ao seu sentido, à sua significação. A imagem também tem reação co o dinheiro, a ciencia, o imaginário social, entre outros.

Ver SICARD, M., La fabrique du regard, Paris, Odile Jacob, 1998
 
José Carlos Abrantes | 8:12 da tarde | 0 comments
terça-feira, agosto 26, 2003
MODOS DE VER

No Público de hoje se refere que um telescópio especial vai poder captar objectos que são invisíveis para o olho humano. Trata-se de uma evolução que vê não a partir da experiência do olho humano mas de outros modos de ver que fogem assim ao paradigma milenário da visão.

Pode ver uma obra que já referi neste blogger
CAREY, J., L’art de l’observateur: Vision et modernité au XIX ème
Siécle, Nîmes, Éditions Jacqueline Chambon, 1994
 
José Carlos Abrantes | 11:56 da tarde | 0 comments
segunda-feira, agosto 25, 2003
INFORMAÇÃO EM TELEVISÃO

O texto de Fernando Ilharco, "Notícias, desliga" levanta interessantes questões sobre a informação em televisão (vale a pena também ler o "Olho Vivo", de Eduardo Cintra Torres, que se refere também, embora não exclusivamente, aos jornais televisivos).

De facto, os telejornais têm tido uma evolução em Portugal que acho deprimente nomeadamente
1 devido à sua excessiva duração (assinalada hoje por ECT pelo menos no que se refere ao jornal que chega às duas horas…)
2 pelo "empastelamento" das peças (aquilo a que ontem, Mário Mesquita, também no Público, chama "excesso de informação" por oposição a "informação seca").
3 pela quebra, pelos menos em tempo de crise, dos mais elementares cuidados no tratamento de informação que é vista por públicos muito diversificados, alguns dos quais são crianças (o caso da Casa Pia foi revelador da boçalidade dos jornalistas, em geral).

Mas há outras coisas que são lamentáveis e que deveriam ser encaradas de forma mais séria pela informação. Na Guerra do Iraque pude ver o director de informação da RTP, José Rodrigues dos Santos, entusiasmado face a imagens da tomada de um aeroporto. Nem uma palavra sobre a origem das imagens: ora estas eram imagens fabricadas em computador e, portanto, provenientes dos serviços americanos. Estou convencido que os jornalistas fariam melhor o seu trabalho explicando ou dando uma breve informação sobre a origem das imagens para que os espectadores melhor compreendessem o que lhes é mostrado. Não só a origem como também o modo como foram obtidas, fabricadas. Deveriam também multiplicar os pontos de vista para numa manifestação por exemplo se poder perceber se se trata de meia dúzia de pessoas ou de uma multidão (basta dar um plano de cima, de um edificio ou local alto…para se comprender isto…).

Mas nem tudo passa pela produção. Na casa de cada um estão também os gestos que levam à qualidade da informação. Já vi muitos jantares em família que são acompanhdos pelos telejornais. Ora os pais deveriam saber distinguir entre o tempo da refeição e da família e o tempo da televisão, separando-os com rigor….

Alguém me pode dizer porque nunca foi assumido com rigor e coerência, pelo Ministério da Educação, um programa de educação à imagem?
 
José Carlos Abrantes | 12:32 da tarde | 0 comments
CORPO

Já várias vezes me referi a relações das imagens com o corpo. A imagem médica, por exemplo, tem uma relação directa e funcional com o corpo (radiografias, ecografias, TACs, actos de cirurgia,…). A arte também tem privilegiado a imagem do corpo (na fotografia, no cinema, na performance, na pintura (ainda recentemente escrevi sobre Courbet e a sua Origem do Mundo).
Segundo o DN, morreu John Coplans"O artista que gostava de auto-retratos sem rosto. John Coplans queria ser pintor e tornou-se crítico de arte, comissário e editor de uma revista influente. Mas é pelas fotografias das suas mãos, pernas e torso que será recordado. Uma paixão tardia, que nas últimas duas décadas o levou a cartografar o corpo em grandes formatos e a assumir, sem pudor, todas as marcas deixadas pelo processo de envelhecimento. Faleceu na passada quinta-feira, num hospital de Nova Iorque, vítima de doença prolongada. Tinha 83 anos."
O texto, da autoria de Paula Lobo, lembra que os sectores legitimadores da arte (museus, exposições e crítica) apaludiram a obra de John Coplans, "caso da Gulbenkian, que em 1992 lhe organizou a mostra Autoportraits."

Um livro de John Coplans
A Body of Work : self portraits, 1999

Um site com imagens da obra de John Coplans
 
José Carlos Abrantes | 11:43 da manhã | 0 comments
sexta-feira, agosto 22, 2003
VER TELEVISÂO


Eduardo Prado Coelho
refere-se na crónica de ontem à angustia, ao sofrimento, à televisão, palco privilegiado de todos os sofrimentos e prazeres. Diz EPC: "Há poucas esperanças para que o uso da televisão seja feito do lado da racionalidade. É a relação entre a imagem e o sentimento que predomina. Mas ao mesmo tempo o ecrã tem uma dimensão protectora. Vemos o que dói mas vemos na distância de ver - que tem sempre um aspecto de consolação. Hans Blumenberg descreveu essa cena reconfortante em que um espectador assiste a um naufrágio. Sofre com o desespero dos que naufragam, mas não deixa de sentir essa voz que o reconforta: são eles que naufragam, não tu." Assim ha sempre este movimento de nos envolvermos nas imagens, de nos embalarmos nos sofrimentos e prazeres que nos são propostos, entregando-nos, abandonando-nos e esse outro, mais reflexivo, de nos libertarmos das imagens, reflectindo. Ainda no sábad, no DNA, Vicente Jorge Silva, numa entrevista que deu a Luis Osório lembrava que "O coração é melhor conselheiro do que a razão no que diz respeito àquilo que nos parece genuíno. …O cinismo é das coisas mais horríveis no ser humano." Ou seja, também esta oposição entre o sentimento e a razão talvez não possa ser vista de forma tão maniqueísta, lembrando ainda a valorização da emoção, por exemplo, nos trabalhos de António Damásio.
 
José Carlos Abrantes | 11:54 da tarde | 0 comments
SERVIÇO PÚBLICO DE TELEVISÃO

Hoje, quer o Público , quer o DN voltam ao acordo entre o Governo e as televisões privadas. A publicidade é reduzida na RTP de sete minutos e meio para seis minutos por hora. E as televisões comerciais ficam com algumas obrigações tais como as de, segundo o Público:


"SIC e TVI (cada uma)

- investem, por ano, 0,5% das receitas líquidas de publicidade em produção independente

- investem, por ano, 0,5 % das receitas líquidas de publicidade na promoção de obras financiadas pelo ICAM

- fornecem uma hora/dia de conteúdos para a RTPi e RTP África

- emitem, no mínimo, 2,5 horas/semana de programação com linguagem gestual entre as 8h e as 24h

- emitem, no mínimo, cinco horas/semana de ficção ou documentários com legendagem em teletexto

- emitem duas horas/mês de programação cultural entre as 8h e as 2h

- emitem 18 horas anuais de obras de ficção de produção nacional

- emitem 30 minutos/semana de programação para minorias étnicas, religiosas ou culturais entre as 6h30 e as 9h

Avaliação:

As obrigações são avaliadas em reunião trimestral, com base em relatórios mensais. O incumprimento implica a acumulação dessas obrigações com as do trimestre seguinte. A primeira reunião será 100 dias após a entrada em vigor do protocolo (a 1 de Setembro)."

Boa iniciativa, parece….Mas essas obrigações não deveriam derivar do contrato de concessão da exploração de televisão aos privados? Vamos ter novos acordos até que o Dr Pinto Balsemã possa ter a sua reivindicação satifeita de zero de publicidade no serviço público, empobrecendo-o económicamente e diminuindo a sua variedade narrativa? Sera que o serviço público não é feito pela RTP e que as privadas devem também considerar a sua missão como de interesse público?
 
José Carlos Abrantes | 11:29 da tarde | 0 comments
quinta-feira, agosto 21, 2003
SERVIÇO PÚBLICO DE TELEVISÃO

Segundo o Público, as televisões privadas ficam obrigadas a prestar serviço público a partir de um acordo que fizeram com o governo.

 
José Carlos Abrantes | 8:20 da tarde | 0 comments
REALISMO


Uma das correntes artísticas muito interessantes, na minha perspectiva (embora haja outras, claro) para a reflexão sobre a imagem é a do realismo, iniciada no século XIX e que teve em Courbet um dos seus representantes mais conhecidos. Interesante pois sendo um modo de representação que procura ser fiel à realidade, não existe fora de um quadro ideológico que compreende o mundo de certa forma )isto será muito evidente no realismo socialista, com a representação positiva e heróica dos operários e camponeses, dos dirigentes revolucionários, dos quadros de trabalho fabris e camponeses).
Gustave Courbet, um autodidacta, pinta cenas da vida vida quotidiana e são-lhe atribuídas afirmações como "O ponto essencial do realismo é a negação do ideal" ou "não pinto anjos, porque nunca vi nenhum." Vale a pena ler hoje a peça do Público que lhe é dedicada, embora longa.


"O triunfo? Ainda não. Falta um grande golpe. Courbet tem 32 anos, parte para Doubs, faz posar toda a vila e volta ao Salão de 1850 com uma tela gigantesca (7 x 3,50 metros) que será um marco na história de arte. É o famoso"Enterro em Ornans".Um monumento à glória do realismo. O formato, panorâmico, até aí reservado aos temas "nobres", desviado a favor de uma simples cerimónia rural, a composição inspirada pelo imaginário popular, a paisagem, as cores sinistras onde o negro domina, as personagens, camponeses ou pequenos burgueses tão desagradáveis como naturais, tudo perturba neste quadro. É esse o objectivo.

O escândalo é enorme, os críticos eriçam-se, a política intromete-se. Nasceu a lenda. "M. Courbet arranjou um lugar na escola francesa qual bola de canhão que se vem alojar num muro", nota, encantado, um escritor socialista. Quanto ao agora famoso "pintor do indecente", esfrega as mãos, a sua cotação está estabelecida. Vende, enfim, não ao Estado, mas, o que é melhor, a coleccionadores. E tem uma única vontade: continuar. Em 1853, reincide com "As Banhistas", onde uma burguesa obesa exibe um traseiro tão provocante que o imperador o vergasteia ao passar. A tela é imediatamente adquirida. Courbet dá-se ao luxo de recusar altivamente os avanços do director das Belas-Artes. E escreve a um dos seus novos mecenas: "Na minha vida espero realizar um milagre único, viver da minha arte (...), sem ter jamais mentido um único instante." Para isso, serão precisos mais alguns escândalos, e ele não se fará de rogado. Em 1855, para a Exposição Universal, produz um outro "monumento", "O Atelier do Pintor",onde o artista pontifica, no centro da sociedade. E como o júri o recusou, alegando falta de espaço, Courbet inova também em matéria comercial, montando, a dois passos do edifício oficial, o seu próprio pavilhão dedicado ao realismo. Aí vende as suas telas, mas também as respectivas reproduções fotográficas e o catálogo, precedido de um manifesto.

A crítica não encontra palavras suficientemente fortes. Pouco importa, a cotação trepa ainda mais. A Bélgica, a Holanda, a Alemanha celebram-no. O duque de Morny, o conde de Choiseaul compram-lhe discretamente paisagens, cenas quotidianas e nus, cada vez mais ousados.

É um turco, o embaixador otomano em Paris que, em 1866, encomenda a tela mais provocadora de todas, "A Origem do Mundo"um sexo de mulher tão "realista", tão cru que ficará oculto até aos anos 50 - quando entra na posse do seu último coleccionador, o psicanalista Jacques Lacan."

Dois sites para ver o que é o realismo
http://www.angelfire.com/pa/genesis4/realismo.html
http://www.artesbr.hpg.ig.com.br/Educacao/11/interna_hpg10.htm

Dois sites para Courbet
http://www.ocaiw.com/catalog/index.php?lang=en&catalog=pitt&author=315&page=1
tem as imagens das pinturas de Courbet.
http://www.ibiblio.org/wm/paint/auth/courbet/

Livros

IMAGEM: ARTE
BRETTEL, R. R., Modern Art 1851-1929, Oxford, Oxford University Press, 1999

FRIDA R., CARRASSAT, P e MARCADÉ, Les mouvements dans la peinture, Paris, Bordas, 1997
KRAUSS, A.C., The story of painting: From renaissance to the present, Köln, Köneman, 1995 (há tradução portuguesa..)
READ, H., O significado da arte, Lisboa: Ulisseia, 1968 ?
SPROCCATI, S. (Dir.), Guia de História da Arte, Lisboa, Editorial Presença, 1994
GEBHARDT, V., Painting: A concise History, London, Laurence King, 1997.


NOTA: No texto do Público também se vê como Courbet soube aproveitar o "escândalo" como elemento da sua ascensão no meio da arte. Mais uma vez a profissão está ligada a uma estratégia de "mediatização".
 
José Carlos Abrantes | 5:35 da tarde | 0 comments
quarta-feira, agosto 20, 2003
IMAGENS DE TELEVISÃO

Se ontem falámos de zapping, hoje, no Público pode ver o que se está a preparar como estratégia anti-zapping: pequenos filmes de um minuto para o espectador não desejar perder esse filme original e ficar como "refém" da publicidade. Vamos ver que estratégias arranjarão os espectadores como resposta! Mas sempre achei que na televisão deveria haver mais alternativas de programas de duração mais curta, quer na informação, quer no divertimento.
 
José Carlos Abrantes | 2:51 da tarde | 0 comments
terça-feira, agosto 19, 2003
IMAGENS NA IMPRENSA

Nao me refiro ás fotografias, ou outro tipo de imagens, que diariamente são publicadas na imprensa e a que, aliàs, por vezes, me refiro. Trata-se antes de notícias e artigos que falam das imagens, das nossas relações com as imagens. Começo, em regra, o dia activo num café a tomar a primeira refeição do dia ou a bica e a ler o Público e o Diário de Notícias (por vezes junto outros elementos a esta magra dieta mediática: o Le Monde, raramente, o Expresso, a Visão). Mesmo assim, ao começar o dia, já tenho o “meu” mundo de informação que, amiúde, me lembro de partilhar, mais tarde pela net, mandando um ou outro artigo a algum amigo mais chegado.

Ora na leitura da imprensa há dias em que as reflexões sobre as imagens são escassas, outros em que são abundantes. Hoje chamaram-me a atenção vários textos e notícias.

IMAGENS: COMO SÃO FABRICADAS

Esquecemos, por vezes, que a construção das imagens não é sempre feita em condições de tranquilidade e paz, de criatividade e fascínio. Jornalistas Pedem Inquérito à Morte de Operador de Câmara da Reuters em Bagdad De salientar que os soldados envolvidos na morte de Mazen Dana referem tê-lo confundido com um assaltante equipado de um lança granadas. Armas físicas e câmara de video são aqui equiparadas dada a posição física em que uma e outra são assumidas. Mas os obuses e as imagens podem também provocar estragos, uns físicos, outros a nível das transformações mentais que as imagens podem induzir (e também reacções físicas de repúdio ou adesão, de horror ou deleite). Apetece lembrar a forte metáfora de José Mário Branco, "A cantiga é uma arma" e transformá-la nesta outra: "A imagem é uma arma". Que pode ser de morte. Descansa em paz, Mazen Dana, morto quando recolhia imagens para eu ver (nós vermos).


IMAGENS E ZAPPING

No DN, José Medeiros Ferreira dá-nos conta do seu interesse pelo zapping, o que também aprecio. Diz JMF: “Habituei-me ao zapping global com a televisão via satélite. Quando me rendi ao cabo há poucos anos, já sabia o circuito com as melhores paragens: Sky News, CNN, TV5, Arte, Euronews, BBC World, TNT, e pouco mais_

Com a TV Cabo apurei o sentido da montagem. Nas longas maratonas dos telejornais poupo-me tanto como as estações portuguesas: dou a volta toda e ainda apanho os comentadores residentes nas mesmas posturas.” Eu, às vezes, apanho-o a ele…..

Aliás, a este propósito, vale a pena ler um texto de um Curso da Arrábida que organizei em 2001, curso intitulado, Públicos, Televisão. Jostein Gripsrud , um investigador norueguês, dá algumas pistas sobre o zapping na televisão digital que, em 2001, já proporcionava aos noruegueses cerca de 1500 canais. Um grande desafio espera o José Medeiros Ferreira, por oposição à monotonia dos 4 escassos canais que ele pode ver na Azóia.


IMAGENS NAS PALAVRAS

No título de uma notíca do Público o tribunal passa a fotógrafo, pelo uso da metáfora, uma imagem construída com palavras: Tribunal tira o retrato social a arguidos do caso Moderna.
Não é só o dr Soares que usa metáforas, como se pode ver.

IMAGENS DE CINEMA

Vale a pena ver também a notícia sobre a não exibição na Turquia de um filme actualmente a passar nas nossas salas: Ararat. Trata-se de um filme sobre um genocídio arménio em 1915. E aí está como uma ficção pode interferir directamente com a vida social e política. Na notícia lembra-se um outro filme, também de ficção que, há 25 anos, incomodou igualmente as autoridades turcas: O Expresso da meia noite, um filme de Alan Parker que denunciava as condiçoes duríssimas das prisões da Turquia e o pouco respeito pelos direitos humanos nesse país.




E ainda há mais, no Público: a recomposição da amostra da Marktest para medir as audiências de televisão (nova amostra que reflecte o peso crescente da televisão por cabo) ou a eterna questão do papel da violência e sexo na publicidade.
Ainda sobre as audiências pode ver uma perspectiva de crítica radical a este conceito, num texto de Tod Gittlin , texto apresentado e discutido no mesmo curso.
 
José Carlos Abrantes | 1:12 da tarde | 0 comments
segunda-feira, agosto 18, 2003
IMAGENS DE TELEVISÃO: O JORNALISMO

Na crónica de hoje Eduardo Cintra Torres assinala a teia de cumplicidade entre o jornalismo e as imagens de promoção de filmes fabricadas pelos produtores.

O texto fala de três apagões a propósito do que aconteceu nos EUA. Eis como ECT fala do segundo apagão: "tornam-se mais frequentes as noticías sobre estreias de filmes comerciais nos noticiários televisivos. Isso seria normal e útil se as notícias o fossem realmente. Não são. Trata-se de promoção ou mesmo de publicidade inserida nos noticiários: o texto promove o filme; as imagens são os próprios clips publicitários criados pelos estúdios americanos, incluindo as frases publicitárias; os critérios são sempre os dos estúdios e nunca do jornalismo ou da crítica. São os operadores de TV pagos para incluirem estas "notícias" nos telejornais? Ou apenas aproveitam acriticamente os materiais de promoção que lhes são enviados pelos estúdios?

Esta publicidade é frequente também na rádio, seja nos canais privados seja nos públicos, como na Antena 2, onde costumo ouvir promoções acríticas de filmes. Ainda não vi os deontólogos do costume falarem deste apagão da crítica. Julgo que os jornalistas deveriam ser informados sobre o erro em que incorrem neste tipo de publicidade; e os operadores de TV deveriam dizer-nos quais os trâmites que os levam a fazer publicidade gratuita nos telejornais, o que é provavelmente ilegal."

Não haja dúvida: ha coisas que se apagam de um momento para o outro, sem sabermos como nem porquê. Mas a veia crítica do jornalismo não se deveria apagar assim....
 
José Carlos Abrantes | 11:52 da tarde | 0 comments
IMAGENS DE CINEMA

Fui ontem rever o Amarcord , de Fellini. Há partes do filme que achei um encantamento puro: todas as sequências relativas aos professores e à escola e, claro, as sequências de ida ao alto mar, daquele "povão", ver o gigantesco paquete, realização do regime fascista da Itália de então.

 
José Carlos Abrantes | 11:11 da manhã | 0 comments
sábado, agosto 16, 2003
IMAGENS E RECEPÇÃO

Na vida quotidiana são diferentes os dispositivos através dos quais entramos em contacto com as imagens. Podemos ver imagens sozinhos ou acompanhados pelos familiares quando vemos televisão em casa, estamos num grupo mais alargado quando vamos a uma sala de cinema (outro espaço, outros objectos técnicos), podemos entrar em contacto com imagens no meio da multidão anónima através de écrãs espalhados pela cidade. Ontem, mais uma vez, tive um raro privilégio: fui ao CCB (Centro Cultural de Belém), sozinho, ver "La jettée" de Chris Markler. Uma sala simpática com 30 cadeiras, chão atepatado vermelho. O video, uma fotonovela, construído a partir de imagens fixas, foi visto apenas por mim na exibição das 12h. Começo a achar invulgar este usufruir bens culturais individualmente. Invulgar, tranquilo, mas…terrível.
 
José Carlos Abrantes | 8:51 da tarde | 0 comments
sexta-feira, agosto 15, 2003
IMAGENS E SUA CIRCULAÇÃO

Num texto do Público de ontem, Pedro Ribeiro, fala do lançamento em Nova York de uma cópia nova do filme Casablanca . Diz Pedro Ribeiro: "Na sessão desta semana em Nova Iorque foi exibida uma versão restaurada a partir do original; o novo DVD promete quatro horas de material inédito, incluindo cenas que ficaram na mesa de montagem.
O pretexto para a comemoração era o 60º aniversário do filme. Aqui é que entra a tal dúvida da data. "Casablanca" foi rodado em 1942, numa altura em que as forças nazis controlavam o Norte de África. A data prevista da estreia era o início de 1943; no entanto, em Novembro de 1942, os Aliados invadiram o Magrebe, a primeira investida militar bem sucedida contra Hitler na frente ocidental. Os produtores acharam que esta era uma oportunidade ideal para estrear o seu filme sobre um americano dono de um bar em Casablanca e uma mulher em fuga dos nazis. Por isso houve uma sessão especial em Nova Iorque ainda em 1942. A estreia de facto foi só alguns meses depois, já em 1943, o mesmo ano em que o filme conquistou vários Óscares, incluindo o de Melhor Filme."

A peça tem ainda muitos depoimentos de familiares de Bogart e de Bergman sobre a "quimica" entre os dois actores que, afinal, parece não ter existido. Mas assim se fazem circular as imagens….Como Galileu fez circular as suas descobertas trazendo ao terraço da sua casa os nobres e poderosos do seu tempo. Mostrando que os projectos profissionais precisam hoje, como ontem, de ser divulgados, de ser conhecidos dos outros, de serem partilhados socialmente.
E ainda bem que estas imagens vão circular no planeta pois são um imenso prazer incluindo o (des)encontro final na partida de Casablanca para Lisboa, então local de refúgio.
 
José Carlos Abrantes | 4:29 da tarde | 0 comments
quinta-feira, agosto 14, 2003
IMAGENS: O OLHAR DE GALILEU

No Público de hoje, uma peça interessante sobre Galileu, um homem que revolucionou o nosso modo de pensar o mundo. E fê-lo com o olhar, através de um objecto técnico que aperfeiçoou: a luneta, percursora do telescópio.

"A 26 de Setembro de 1593, com 29 anos, é nomeado professor de Matemática na Universidade de Pádua, que depende de Veneza. Lá, o seu génio difunde-se. Durante 18 anos, vai multiplicar as descobertas fundadoras da física moderna: para além de demonstrar as leis da queda dos corpos, compreende a aceleração e a relatividade dos movimentos, trabalha em óptica, estuda os corpos flutuantes. Em cada domínio, aplica um método original, combinando experiências e cálculos teóricos, utilizando o que se tornou o método científico, que ainda hoje é a base da investigação científica."

(…)"O seu magro salário de professor não é suficiente. Faz então alguns biscates: traça horóscopos, inventa instrumentos de uso militar e marítimo que manda fabricar, vendendo a preços elevados o modo da sua utilização, desenha canhões, escreve um tratado sobre a melhor forma de construir fortificações. Estas actividades atraem uma clientela rica e os favores dos mais poderosos. O seu salário multiplica-se por vinte. Aconselha o doge de Veneza, forma generais e príncipes; a alta burguesia veneziana regala-se com o seu brio, com o seu humor e com os seus múltiplos talentos - Galileu é um homem de garra.

Dentro deste espírito mercantil, aperfeiçoa, em 1609, a luneta que importa da Holanda e, com a ajuda dos vidreiros de Murano, inventa o telescópio - que aumenta uma imagem entre 30 a 50 vezes, em vez de duas, como inicialmente. Tem 45 anos. É o apogeu da sua carreira e o começo dos dissabores.

Subitamente, Galileu vira o seu instrumento em direcção ao firmamento e descobre, maravilhado, um mundo desconhecido: a Via Láctea e a sua poeira de estrelas, os satélites de Júpiter, os relevos da Lua e as fases de Vénus.

Sempre cuidadoso com as relações públicas, oferece a luneta ao doge, dedica os satélites de Júpiter à família Médici e organiza sessões astronómicas no terraço da sua casa. Veneza inteira acorre, seguida de toda a Península Itálica, incluindo prelados como o poderoso cardeal Bellarmin, ou Christophe Clavius, líder dos jesuítas, que aliás apadrinham Galileu. "


Tudo isto mostra um investimento profissional invejável (como progredir sem este forte investimento?) e com elementos de publicitação que mostram a sagacidade do cientista.


Foi assim que em 7 Janeiro de 1610 Galileu apontou pela primeira vez a luneta em direcção dos astros. Falamos muito de Galileu, mas pouco do objecto que este aperfeiçoou e que ajudou a mudar a visão do mundo. A lua afinal não é um disco plano, tem rugosidades, montanhas, crateras, A via Láctea é formada de um multidão de pequenas estrelas, Júpiter esta acompanhado de 3 pequenos astros.

E, uma semana mais tarde, Galileu encontra um quarto planeta à volta de Júpiter.
Diz Galileu numa carta de 24 de Maio de 1610: "Apliquei a luneta sobre 100 mil estrelas e objectos diversos". E, um ano mais tarde, escreve: "De há dois anos para cá, fiz com o meu instrumento ou melhor com vários dos meus instrumentos, centenas ou milhares de experiências sobre centenas ou milhares de objectos próximos e longínquos, grandes e pequenos, luminosos ou obscuros, não percebo como alguem me poderia assim crer tão ingénuo que pudessse ter sido enganado pelas minhas observações."
(SICARD, 1998:67)

Ora, com a luneta, Galileu mostrou que a Terra era outra Lua, que a Lua era outra Terra, que outras luas e outras terras existiam no universo. E isto de uma maneira muito rápida pois as notícias, apesar de não haver televisão, espalharam-se de modo célere. Tudo por causa de um outro olhar, aliàs contestado por alguns, que não acreditavam que uma simples luneta pudesse ser tão fiel e fiável. Mas foi…
Há um belo poema de António Gedeão sobre Galileu. Mas não conhecendo versão na net, não posso, neste momento estar a reproduzi-lo….

Ver

SICARD, M., La fabrique du regard, Paris, Odile Jacob, 1998.

 
José Carlos Abrantes | 12:27 da tarde | 0 comments
quarta-feira, agosto 13, 2003
IMAGENS E TEMPO

Para quem não possa ou não queira comprar a Time dá para ter uma ideia consultar a versão on line.

 
José Carlos Abrantes | 1:29 da tarde | 0 comments
IMAGENS E TEMPO

A revista Time traz no seu nº de Agosto, 18-25, 2003 um curioso dossier sobre a Europa entre 1953 e 2003, Europe Then and Now, com a Brandenbourg Gate, em Berlim, na capa. Trata-se de fotografias tiradas em vários locais europeus, na actualidade, por 15 fotografos depois de estes terem partido de uma outra fotografia que, por qualquer motivo, foi significativa desde 1953 (por exemplo, em Paris o Maio de 1968 e agora as mesma ruas, fotografadas nos mesmos angulos, com a vida de hoje).

Um número interessante para os que gostam de fotografia, das imagens e das relações que com elas estabelecemos.
 
José Carlos Abrantes | 1:19 da tarde | 0 comments
terça-feira, agosto 12, 2003
IMAGENS: O retrato em fotografia

Eduardo Prado Coelho escreve hoje sobre uma revista "In Si(s)tu", publicada no Norte e que vai no 6º volume publicado. E debruça-se mais particularmente sobre as fotografias de Ângelo de Sousa. Diz EPC: "Mas o que me interessa nestas belíssimas fotografias é o facto de elas nos mostrarem uma certa dimensão do olhar. Quando se tira um retrato (e o verbo "tirar" indica que alguma coisa se extrai de alguém), aquele que retrata sabe que o retratado procura dar uma imagem de si próprio. Essa imagem é regulada por convenções sociais (eu sou o cozinheiro, eu sou o patrão, eu sou o polícia, e assim por diante), por um determinado ideal do eu, ou por uma tentativa de corresponder ao desejo do outro (se tu me amas, eu dou-te a imagem que tu desejas em mim). A estas várias determinações corresponde o nome de "pose". A pose é o modo como cada um de nós se põe para entrar no espaço que o outro nos compõe. "

Um dos géneros da fotografia mais trabalhado é o do retrato, alás presente logo desde o início da fotografia. Nadar fotografou figuras públicas da sua época, intelectuais como Balzac e Baudelaire. Segundo Nadar "trata-se de observar o carácter do modelo e de o captar na sua expressão verdadeira, na sua forma mais habitual ao mesmo tempo que mais favorável". Um dos inventores da fotografia, Bayard, fez a primeira fotografia ficcionada que se conhece com Auto-retrato de um afogado: Bayard fotografou-se a si próprio, desnudado, simulando estar morto. Trata-se de um protesto pois Bayard vira o governo francês dar a Daguerre apoio pela invenção da fotografia, colocando Bayard (que havia inventado outro processo fotográfico) no anonimato.
Interessante também EPC ter acentuado o aspecto de tirar uma fotografia ser "tirar" algo a alguém: Balzac acreditava que cada vez que era fotografado uma ténue película de si próprio passava para a fotografia, com se cada um de nós fosse constituído por uma série de finíssimas camadas materiais, sobreposto, a exemplo das camadas de uma cebola.
A pose tem evoluído ao ponto de hoje as fotografias serem mais valorizadas ou pelo menos melhor aceites sempre que a pose parece não existir.
 
José Carlos Abrantes | 12:19 da tarde | 0 comments
IMAGENS NO BRASIL: a fotografia

Depois de D. Pedro I ter sido aclamado Imperador do Brasil e depois da sua renúncia, foi D. Pedro II que lhe sucedeu. Na altura Pedro de Alcântara tinha apenas 5 anos e apenas começou a reinar sobre o Brasil aos 15, altura em que atingiu a maioridade antecipada. Ora D. Pedro II, que acabaria por governar o Brasil durante 50 anos, foi um grande entusiasta da fotografia. Segundo José Inácio Parente, no "Guia Amoroso do Rio de Janeiro", o Imperador terá sido o primeiro fotógrafo brasileiro tendo mesmo adquirido uma câmara fotográfica logo após a sua invenção. E diz JIP "Impulsionou o desenvolvimento da fotografia com apoio financeiro, prémios, comprando colecções e dando medalhas aos mais destacados fotógrafos." O fascínio da fotografia passou bem depressa o Atlântico e instalou-se no Brasil bem cedo..com ajuda imperial….
 
José Carlos Abrantes | 1:32 da manhã | 0 comments
IMAGENS DE TELEVISÃO

Vale a pena ler a crónica de Eduardo Cintra Torres no Público de ontem, segunda, crónica que se refere a um DVD editado na semana passada sobre a guerra pelo Público e pela RTP.
Diz ECT: "Objectivo Bagdad" é um documento que não pretende prestar testemunho sobre a guerra, mas apenas sobre a cobertura da guerra pela RTP. Trata-se de um, mais um, momento de onanismo jornalístico, de glorificação do trabalho da direcção de informação da RTP.
 
José Carlos Abrantes | 12:29 da manhã | 0 comments
domingo, agosto 10, 2003
IMAGENS DE CINEMA

Dois dias, dois filmes:ontem "A viagem de Morven Callar", da escocesa Lynne Ramsay, hoje "Dolls" de Takeshi Kitano. Um e outro têm referências no Cinema 2000 e o primeiro deu origem a um texto de João Lopes no Diário de Notícias de ontem, texto que vale a pena ler .

Do filme japonês, que acabei de ver há uma hora, fica-me uma impressão deslumbrante do trabalho feitos sobre a côr com planos e sequências lindíssimas (diferentes cores nas folhas das árvores, por exemplo, ou a lua, o negro da noite e a bolinha encarnada de um brinquedo…), o encanto das histórias paralelas que se cruzam em flashbacks sucessivos (um destes, conta uma patética história de amor em que o homem interrompe o namoro para melhor pensar na sua vida havendo um reencontro…dezenas de anos depois..), a inclusão de momentos de narrativa repetida e ainda uma angústia que perpassa na descrição raramente agitada (excepto a parte referente à cantora pop e a um ou dois momentos de violência entre "irmãos").
 
José Carlos Abrantes | 6:08 da tarde | 0 comments
sexta-feira, agosto 08, 2003
IMAGENS: Sonho e realidade

Um livro célebre "Doing things with words" de Austin iniciou uma reflexão que ficou conhecida por introduzir a dimensão performativa na linguagem. A tradução francesa deste livro "Quand dire c’est faire" (Quando dizer é fazer) dá-nos também esta dimensão actuante, e não apenas descritiva, da linguagem.

Nos tempos da ditadura (sobretudo ja no marcelismo) cantores como José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, José Mario Branco, o Padre Fanhais e outros usaram os poderes da palavra para criarem imagens de resistência ao pensamento único da ditadura. E, quem as cantou ou ouviu, muitas vezes concordou com o título de uma delas, de José Mário Branco, "A cantiga é uma arma", mesmo que os afastamentos ideológicos levassem a cantar tal canção com algum desejo de distanciamento. Um elemento então decisivo era o sonho…sonhar que a ditadura poderia um dia cair. Levou muitos anos, mas caíu...
António Gedeão fez uma bela poesia, cantada por Manuel Freire, que mostra bem a relação entre a imagem mental das coisas (neste caso o sonho) e as próprias coisas.

Pedra filosofal

Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

Eles não sabem que o sonho
É vinho, é espuma, é fermento,
Bichinho álacre e sedento,
De focinho pontiagudo, que fossa através de tudo
Num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia, máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista, mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista, que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva, alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.

António Gedeão,
Movimento perpétuo, 1956

Ainda hoje, Pedra Filosofal, é um belo poema. E, mostra com alguma clareza, que entre o sonho e a realidade, nem sempre estão muros intransponíveis.
Um sonho (uma iimagem), a realidade. Ainda hoje…em que as "ditaduras" são mais subtis e menos visiveis.
 
José Carlos Abrantes | 10:30 da tarde | 0 comments
Como tem havido dificuldades na publicação de textos e alguns foram por mim indevidamente apagados, volto a fazer a publicação de tudo que havia escrito em Agosto.

7 de Agosto
IMAGENS e POLISSEMIA

Vou outra vez socorrer-me da poesia, desta feita de António Gedeão para deixar uma reflexão sobre as várias leituras (vários sentidos, polissemia) que as imagens (e a vida) proporcionam

Impressão Digital

Os meus olhos são uns olhos
e é com esses olhos uns
que eu vejo no mundo escolhos
onde outros, com outros olhos,
nao vêem escolhos menhuns.

Quem diz escolhos diz flores
de tudo o mesmo se diz.
Onde uns vêem luto e dores,
uns outros descobrem cores
do mais formoso matiz.

Nas ruas ou nas estradas
Onde passa tanta gente,
Uns vêem pedras pisadas,
Mas outros, gnomos e fadas
Num halo resplandecente.

Inútil seguir os vizinhos,
querer ser depois ou ser antes
cada um e seus caminhos
Onde Sancho vê moinhos
D. Quixote vê gigantes.

Vê moinhos? São moinhos.
Vê gigantes? São gigantes.

Antonio Gedeão, 1956
Movimento perpétuo

Na leitura das imagens, porém, quando esta se faz colectivamente e uns se escutam aos outros, muitas vezes as leituras iniciais são abandonadas ou corrigidas pela escuta que cada um faz do outro. Percebem-se detalhes, descobrem-se itinerários diferentes, olha-se para aspectos não vistos ou não interpretados.
Também na vida e assim, se Sancho e Pançaa souberem dialogar. Mas, em geral, não sabem. Por isso o povo diz "Pior cego o que não quer ver, pior surdo o que não quer ouvir?".E por isso também Gedeão afirma:

Vê moinhos? São moinhos.
Vê gigantes? São gigantes.



6 de Agosto
IMAGENS E FINGIMENTO

Os fingimentos da poesia

Lendo há dias algumas passagens de uns discursos sobre a maneira de compôr o romance e a tragédia, publicados por j. garibaldi no ano de 1554, chamou-me a atençao o longo processo que leonardo da vinci seguiu até pintar a cabeça de judas no seu quadro de a ceia. Depois de, mediante um aturado estudo dos evangelhos, ter reconstituido o ambiente e cada uma das personagens que tencionava representar , depois de ter pintado todo o quadro, so lhe faltava aquela cabeça. Todo os dias ia à procura dela ao borghetto, o bairro de milao onde nesse tempo se reunia a ralé. Até que finalmente a descobriu. Pegou nela, levou-a consigo e meteu-a no quadro.
Semelhante descriçao parece-me ilustrar um dos caminhos do poeta. Arranca esse senhor à linguagem quotidiana aquelas palavras que lhe faltavam para fechar um poema. Como é que la chega? Pegando naquilo que vê, pensa ou sente e sacrificando-o ao fio da sua meditaçao. Despreza aquele conjunto de circunstâncias que rodeavam a palavra e da nova arrumaçao à palavra liberta. Tanto faz que se fale de desumanizaçao, como de falsidade, como de fingimento.

Ruy Belo (1933-1978)
Homem de Palavra/s)

Tal como na poesia, as imagens também sao fingimento. Ou para nos darem o retrato do fingimento e do sonho, ou para, com fingimento, nos aproximarem do real....



6 de Agosto
IMAGENS E VISIBILIDADE
Fui apenas a 3 exposições da LisboaPhoto. A do CCB (Arquivos e Simulaçoes), a de Carlos Relvas que está no Museu de Arte Antiga e e a de Eduardo Portugal, que está no Convento das Bernardas.
Tentei ir e fui de propósito à de Luís Pavão, no Oceanário, mas já não estava. Já tinha saído. A de Eduardo Portugal visitei-a na tarde de domingo, mas tentara durante a manhã, mas a exposição só estava aberta a partir das 14h. A de Carlos Relvas no Museu de Arte Antiga apanhei-a de manhã mas fecharia durante a tarde e foi aquela em que me cruzei com mais visitantes, alguns turistas.
Dá a sensação que o trabalho feito não tem o publico que merece. Mas o publico não pode procurar exposições se umas são de manhã, outras à tarde, se os horarios nao são explicitos nos programas, por exemplo. Faz muita confusão que um trabalho de tanta qualidade (pelo que vi) não preveja formas de divulgação que dêm outra visibilidade às imagens expostas. Ou que tendo-as previsto não tenha corrigido e melhorado essa divulgação de modo a dar-lhes outra visibilidade. É que hoje há a televisão, um dispositivo de visibilidade permante para as imagens…Mas também ela, sem memória pública em Portugal.

5 de Agosto
IMAGENS DE SATÉLITE

Na primeira pagina do Público, de hoje, uma foto divulgada pela NASA mostra os fogos em Portugal. Percebem-se com clareza as nuvens de fumo a elevarem-se para os céus retirando essas colunas de fumo a visibilidade ao relevo da País, na parte cEntro e Norte. Uma imagem que transforma a percepção da dimensão da catastrofe.


4 de Agosto
IMAGENS DA CIDADE

Comprei hoje, na Bertrand, a revista Arquitectura e Vida pois traz um projecto de um Centro de Recursos (da Benedita) e uma entrevisa com James Lerner, ex prefeito de Curitiba e também governador do Estado do Paraná. Já há algum tempo que o DNA (julgo que em Maio) trouxe tambem uma entrevista com este homem, cujo perfil me fascinou e me deixou curioso de conhecer Curitiba. Nesta entrevista, JL diz que a "cidade é como uma fotografia de família. Você vê o retrato da família e pode não gostar de um tio ou de uma tia mas não o rasga porque esse retrato é você." Afinal a cidade também é memória de todos e cada um.
E a imagem da cidade é feita pelos que a planeiam e pelos que a vivem, no dia a dia agitado, calmo, ansioso, trabalhador ou preguiçoso. Com memórias de ontem e projectos para amanhã.

4 de Agosto
IMAGENS E MEMÓRIA
Fui ontem, domingo, ver a exposição da LisboaPhoto que esta no Convento das Bernardas (perto da Embaixada de França). Entre as 18h e as 19h. Fui único visitante. E vale bem a pena ver a Lisboa dos anos 40, 50 a crescer e nalguns casos a ficar mais bonita (por exemplo, na Praça da Figueira ou no Rato…). Algumas fotografias impressionaram-me: uma de cerca dos anos 1940, em Marvila, fez-me lembrar o século XIX tal o ar dos barracoes, das pessoas retratadas. A Avenida do EUA ainda só construida de um lado, uma Avenida 5 de Outubro irreconhecivel no local do comboio…Memórias agradecidas a Eduardo Portugal.

3 de Agosto 2003
IMAGENS E MEMÓRIA

Condutores de Memória - Um Histórico Cultural da Grande Tijuca é um projecto a que se refere a Folha on line e que prevê a utilização de registos video e fotografia para fazer uma intervenção social em algumas favelas do Rio.


"E foi também para mostrar que a história das favelas cariocas não é feita só de episódios violentos que as agentes comunitárias Ruth Pereira de Barros, 52, Mauriléa Januário Ribeiro, 50, e Maria Aparecida Coutinho, 35, dos morros da Casa Branca e do Borel, deram início a um trabalho, cujos objetivos finais, ainda não alcançados por falta de dinheiro, são a publicação de um almanaque e a montagem de um centro de memória.
O projeto é uma das muitas iniciativas que estão nascendo no Rio para resgatar a história dos morros. Existem idéias parecidas na Mangueira e na Maré, ambas na zona norte, e nos Prazeres e na Rocinha, na zona sul.

Elas aproveitaram os cursos de cidadania para lideranças locais organizados pela ONG Gestão Comunitária para começar o trabalho por oficinas com os moradores mais antigos dos morros do Borel, da Casa Branca, do Andaraí e da Chácara do Céu. As próximas favelas a serem beneficiadas serão Salgueiro e Formiga.

…"Muitos tinham vergonha de morar na favela, porque achavam que ela só tinha casos de violência para contar. Agora, entenderam que não é assim", afirma Maria Aparecida.

A imagem tem um papel social de reconhecimento que aje muito bem em comunidades mais restritas do que as entidades nacionais. De facto, devolver a imagem de si aos actores sociais que constroem o quotidiano pode ter um efeito muito importante no questionamento dessas práticas sociais, na imagem estereotipada que se constroi sobre os locais, as pessoas, o tempo, a história.
 
José Carlos Abrantes | 2:48 da tarde | 0 comments
quinta-feira, agosto 07, 2003
IMAGENS e POLISSEMIA

Vou outra vez socorrer-me da poesia, desta feita de Antonio Gedeao, para deixar uma breve reflexao sobre as varias leituras (varios sentidos, polissemia) que as imagens (e a vida) proporcionam

Impressao Digital

Os meus olhos sao uns olhos
e é com esses olhos uns
que eu vejo no mundo escolhos
onde outros, com outros olhos,
nao veem escolhos menhuns.

Quem diz escolhos diz flores
de tudo o mesmo se diz.
Onde uns veem luto e dores,
uns outros descobrem cores
do mais formoso matiz.

Nas ruas ou nas estradas
Onde passa tanta gente,
Uns veem pedras pisadas,
Mas outros, gnomos e fadas
Num halo resplandecente.

Inutil seguir os vizinhos,
querer ser depois ou ser antes
cada um e seus caminhos
Onde Sancho ve moinhos
D. Quixote ve gigantes.

Ve moinhos? Sao moinhos.
Ve gigantes? Sao gigantes.

Antonio Gedeao, 1956
Movimento perpetuo

Na leitura das imagens, porem, quando esta se faz colectivamente e uns se escutam aos outros, muitas vezes as leituras iniciais sao abandonadas ou corrigidas pela escuta que cada um faz do outro. Percebem-se detalhes, descobrem-se itinerarios diferentes, olha-se para aspectos nao vistos ou nao interpretados.
Tambem na vida e assim, se Sancho e Panca souberem dialogar. Mas, em geral, nao sabem. Por isso o povo diz "Pior cego o que nao quer ver, pior surdo o que nao quer ouvir?".E por isso tambem Gedeao afirma:

Ve moinhos? Sao moinhos.
Ve gigantes? Sao gigantes.
 
José Carlos Abrantes | 3:37 da tarde | 0 comments
domingo, agosto 03, 2003
IMAGENS E MEMORIA

Condutores de Memoria - Um Historico Cultural da Grande Tijuca é um projecto a que se refere a Folha on line e que prevê a utilizaçao de registos video e fotografia para fazer uma intervenç?o social em algumas favelas do Rio.


"E foi também para mostrar que a historia das favelas cariocas nao é feita so de episodios violentos que as agentes comunitarias Ruth Pereira de Barros, 52, Mauriléa Januario Ribeiro, 50, e Maria Aparecida Coutinho, 35, dos morros da Casa Branca e do Borel, deram inicio a um trabalho, cujos objetivos finais, ainda nao alcançados por falta de dinheiro, sao a publicaçao de um almanaque e a montagem de um centro de memoria.

O projeto é uma das muitas iniciativas que estao nascendo no Rio para resgatar a historia dos morros. Existem idéias parecidas na Mangueira e na Maré, ambas na zona norte, e nos Prazeres e na Rocinha, na zona sul."

"Elas aproveitaram os cursos de cidadania para lideranças locais organizados pela ONG Gestao Comunitaria para começar o trabalho por oficinas com os moradores mais antigos dos morros do Borel, da Casa Branca, do Andara e da Chacara do Céu. As proximas favelas a serem beneficiadas serao Salgueiro e Formiga."

…"Muitos tinham vergonha de morar na favela, porque achavam que ela so tinha casos de violência para contar. Agora, entenderam que nao é assim", afirma Maria Aparecida.

A imagem tem um papel social de reconhecimento que aje muito bem em comunidades mais restritas do que as entidades nacionais. De facto, devolver a imagem de si aos actores sociais que constroem o quotidiano pode ter um efeito muito importante no questionamento dessas praticas sociais, na imagem estereotipada que se constroi sobre os locais, as pessoas, o tempo, a historia.
 
José Carlos Abrantes | 4:30 da tarde | 0 comments